O momento para Matt LaFleur – Parte 1

Vencer 13 jogos em três temporadas seguidas parece algo fácil quando se tem Aaron Rodgers como QB. Mas indo para sua quarta temporada como treinador ele sabe que ainda tem questões a responder e uma grande oportunidade de fazer isso .

Matt LaFleur vence jogos numa proporção maior que qualquer outro treinador na história. Eu estou andando por um grande vestiário no Lambeau Field no começo de agosto tentando encontrar porque, e geralmente tenho sucesso. Os jogadores estão explicando em detalhes sua grande forma de comandar o time e descrevendo sua mente futebolística que tem vários conceitos que ele amou por anos e com os quais ele ajudou seu quarterback para entrar no melhor playbook da liga. Mas no momento, Rodgers precisa de mim para para entender uma coisa: ele brinca com La Fleur constantemente. Diariamente. Toda hora. 

Então essa história, que eu pergunto para o QB me confirmar, de que ele e outros convidados no casamento de Bakhtiari em março ficaram fazendo piadas sobre Rodgers se aposentar, antes de Rodgers de fato tomar uma decisão. "Grandes possibilidades" Rodgers disse com um sorriso de canto de boca. Um daqueles que você deve ter visto muitas e muitas vezes durante o outono naquelas tardes em que ele acaba com as defesas adversárias. "Para o Matt isso deve ter tido grande significado, mas não fica na minha cabeça. Porque eu brinco com Matt todo tempo.” 

Isso, eu te garanto, é parte da história. Pode ser A história de porque isso tudo funciona. O técnico e o QB operam em partes como Vince Lombardi-Bart Starr e parte como um casal de velhos - como se os velhos tivessem ganho 80% dos jogos que disputaram. Havia uma "dança" explica Rodgers. Ele usa muito essa palavra durante nossa conversa. Depois do técnico ter sido contratado em 2019, quando os dois não se conheciam, eles podiam dizer dizer o que quisessem um para o outro, às vezes de forma brutal.  "Eu não entendia exatamente como falar com ele, e ele não entendia exatamente como falar comigo", disse o QB.  Então se o técnico estava bravo sobre alguma coisa que Rodgers disse ou fez, ele iria falar com os QBs reservas. Se Rodgers estava bravo com o técnico ele iria ficar frustrado e é isso. 

Esse período acabou organicamente. Uma reunião aqui, uma Jogada lá,  uma conferência online antes da temporada 2020. "Então agora eu posso dizer: Matt, toda jogada nesse treino tem movimentação.  Podemos tirar um pouco dela para pegar o ritmo?  E ele pode dizer sim sem ficar sentido", disse Rodgers. Então Rodgers explica que  o treinador pode brincar com a gente ou corrigi-los. "E eu tenho que dizer, você está certo, você está exatamente certo "

(Reprodução: Site Oficial/Green Bay Packers)

"Então é uma dança. Como vamos nos apresentar um para o outro? Tire a emoção e você vai ser capaz de ter uma conversa honesta sem ficar ofendido ou sentido pelo que foi dito. Sabemos que nós dois queremos o melhor para o time e fazemos isso com amor e respeito pelo outro "

Em três temporadas juntos, o treinador e o QB ganharam 13 jogos três vezes e chegaram a final de conferência em duas ocasiões. Em duas dessas três temporadas, Rodgers ganhou o prêmio de MVP da liga. Porém o treinador nunca recebeu mais de 20 votos para ser o treinador do ano. No ano passado ele perdeu para Mike Vrabel por 28 votos, e nos dois anos anteriores ele não ficou nem em segundo. Quando ele completar 50 jogos, o que vai acontecer na semana 1 dessa temporada, ele vai tomar o lugar como o técnico com maior porcentagem de vitórias. Lugar ocupado por Guy Chamberlain, que comandou pela última vez o Chicago Cardinals em 1927 e se aposentou no meio da década de 1930 para virar um fazendeiro. LaFleur já quebrou o recorde do antigo técnico do 49ers George Seifert por mais vitórias nas três primeiras temporadas (39). Ele quebrou o recorde de Don Shula na era Super Bowl pela melhor porcentagem de vitórias nos 40 primeiros jogos. Ele é, entrando em seu quarto ano, o treinador mais longevo na sua divisão. Sem dúvida isso acontece porque seus rivais não conseguem vencê-lo. Ele não conseguiu vencer ou chegar a um Super Bowl - o que vamos falar depois -  mas ele é sem dúvida um dos melhores treinadores no esporte. Seus atletas falam dele como uma espécie de Gregg Popovich - ou Steve Kerr - em questão de personalidade como técnico. Especialmente se um dos dois tivesse um grande tratamento de pele. 

O argumento contra o técnico é de que ele se beneficia do talento de seu QB. E é claro que sim. Porém, se fosse fácil ganhar 13 jogos, o antecessor do técnico, Mike McCarthy,  teria feito isso pelo menos uma vez em seus últimos sete anos no time. Ele não conseguiu. Enquanto eu e LaFleur andamos, passamos pela Oneida Street em Green Bay e um homem chapado para de empurrar seu carro para deixar o técnico passar. Ele pede por um autógrafo para seu filho (o filho, isso deve ser dito, é muito jovem e não liga para isso). LaFleur tira seu boné e começa a assinar. “Melhor técnico da liga”, o cara diz para mim. Eu estou em Green Bay para descobrir porque mais pessoas não dizem isso. 

Eu pergunto para quase todo mundo para essa matéria: por que o técnico não tem tanto crédito quanto ele deveria? A resposta mais comum é "Aaron é um grande jogador " disse Mark Murphy, presidente e CEO do time. “Então eu penso que a maioria vai dizer ‘Ok, você tem um QB hall da fama’. Mas o Matt é a grande razão pela qual esse QB hall da fama ganhou dois MVPs nos dois últimos anos”. 

“Muitas pessoas querem tirar o crédito dele porque ele tem um QB hall da fama, mas a realidade é que ele tem feito um trabalho fenomenal, fazendo um vestiário bem tranquilo mesmo com estrelas e talentos e fazendo com que todos joguem num alto nível. Isso é incrível pra mim”. 

Robert Saleh, treinador do New York Jets, amigo de longa data e antigo companheiro de trabalho de LaFleur.

“Seu sucesso é tão difícil de conseguir na liga. Para vencer constantemente do jeito que ele tem feito e não tem o reconhecimento devido” disse o técnico do Bengals, Zac Taylor, que estava no Rams de 2017 com LaFleur. 

Seu QB, no entanto, tem outra visão: “É porque ele ganhou na loteria cara. Ele é tão bonito" disse Rodgers, num tom bem sério. "Ele tem lindas sobrancelhas, ele se veste bem, e eles acabam ficando distraídos por todas as coisas que ele traz à mesa e não dão a ele o crédito devido. Eles dão o crédito para caras feios caras com sobrancelhas horríveis e terríveis cabelos, e ele é abençoado. Grande penteado, grande sorriso, e ele se veste bem.”

A história do casamento começa do mesmo jeito que toda história de LaFleur  começa: tentando dar espaço para cada um ser de seu próprio jeito. Isso, várias pessoas me disseram, é a base do time. O TE Marcedes Lewis disse que se ele não fosse treinado por LaFleur ele provavelmente não estaria na liga. E não necessariamente porque LaFleur usa bem suas habilidades (apesar dele fazer isso, deixando Lewis ser um grande bloqueador e agarrando passes depois desses bloqueios). É porque quando você joga por 16 anos e guarda o seu dinheiro, é uma questão de porque você quer continuar jogando. "Ele é uma grande parte desse quebra-cabeça do porque eu continuo acordando cedo toda manhã", disse Lewis. 

De’Vondre Campbell, um LB que foi muito bem pelo Packers ano passado, disse que por mais que pareça simples que o treinador deixe eles dormirem em suas casas na noite anterior ao jogo, uma coisa que Campbell nunca viu antes na liga, dá a eles liberdade que ele nunca experimentou antes.  "Você quer ganhar essa confiança, e então você quer manter essa confiança.” Disse Campbell. (enquanto eu conversava com Campbell nos corredores LaFleur passou, e quando ele ouviu os elogios de Campbell sobre ele, ele pegou os seus dedos e os colocou na orelha e ficou cantando bem alto um “la-la-la”  para fugir dos elogios.)

LaFleur deu essa liberdade para Rodgers após a última temporada, quando o QB estava em dúvida se queria continuar jogando. "Eu disse, ‘escuta eu não vou atrás de você,’” disse LaFleur. "Eu disse, ‘você sabe como eu me sinto’ mas eu ia deixar ele ter seu próprio espaço e tomar a decisão que fosse melhor para ele.

"Eu queria que ele fizesse o que deixasse ele feliz, porque eu penso que muitas vezes nós esquecemos que esses jogadores são pessoas em primeiro lugar. ninguém quer um desses caras tristes quando eles vão trabalhar. Eu quero que eles sejam felizes, eu quero que eles aproveitem estar aqui. Eu quero que eles sejam parte de um time ponto no final das contas, era uma decisão dele"

Esse era o contexto do casamento em março. Rodgers “estava curtindo com a minha cara um pouco,” disse LaFleur. “Tiveram alguns momentos que eu fiquei ‘ele está só me zoando?’ Eu tentei ao máximo fazer minha cara que não estava ligando, mas por dentro meu coração acelerou um pouco.” LaFleur disse que as piadas vinham de vários convidados na festa. E ele estava tão perdido que quando retornou para Green Bay ele conversou com o OC Adam Stenavich sobre o assunto. “Eu só ficava dizendo ‘eu não sei cara’ e ele disse ‘não, estamos bem’. Então eu ficava repetindo “você tem certeza? e ele dizia “estamos bem’”. E foi assim que aconteceu . "Eu não sabia, Eu não queria perguntar a ele, eu não queria forçar a barra". Rodgers assinou novo contrato alguns dias depois. 5 meses depois, ele está de volta a fazer piadas do cabelo do seu técnico .

Um dos maiores clichês do futebol acaba por ser uma verdade: a relação entre o técnico e se eu QB é a mais importante dentro de uma franquia. Um bom relacionamento, quando um e o outro conseguem apagar os seus erros e fazer um ao outro pessoas melhores, pode te fazer vencer campeonatos. Um relacionamento que falha mesmo que por um jogo pode alterar todo o curso da franquia. Mahomes-Reid, Belichick-Brady, McVay-Stafford: Todas essas três parcerias são drasticamente diferentes, mas você não pode contar a história de um homem sem o outro ponto é isso que está acontecendo em Green Bay. 

(Reprodução: Site Oficial/Green Bay Packers)

Há uma jogada chamada “Strike” no playbook do Packers. McVay, o antigo chefe de LaFleur em LA também usa. Assim como Kyle Shanahan, com quem LaFleur trabalhou em Houston, Washington e Atlanta - apesar de Shanahan chamar de “drift”. Pode ser uma jogada desconfortável para o QB, disse LaFleur. Uma jogada rápida, cinco passos para trás (ou seis se você está se movendo para a esquerda) saindo under center. Você não está enfrentando a defesa, voltada para o running back no fake por boa parte da jogada. E você tem que soltar a bola assim que você plantar o pé de trás, deixando o QB com uma pequena fração de segundo para ler a defesa. Essa jogada requer muita confiança, e é normalmente um tiro no escuro, a Favorita em quase todo o playbook de LaFleur.  Porém ela não era a favorita de Aaron Rodgers  no começo. “Eu não costumava acertar, porque eu não tinha nenhuma referência de onde eu poderia arremessar com aquela confiança" disse Rodgers. Mas eles trabalharam nisso. Rodgers é um cara que gosta de repetições, ele gosta de trabalhar o conceito várias e várias vezes para ver se ele se sente confortável. ele viu Ryan Tannehill arremessar tão bem como qualquer outro na liga. “Eu realmente gosto agora” disse Rodgers. 

“E ele é tão bom nisso cara. Ele é tão eficiente nisso" disse LaFleur. Essa troca de ideias, disse LaFleur, é o que ele está buscando. Isso é a parte mais satisfatória de toda a operação: “Quando tem [uma jogada] que ele fica contra a grade, e então ele começa a gostar daquilo”. 

“Eu tenho tanta confiança nele”, disse LaFleur. “Não há nada que ele não possa fazer.  Se ele ver outro QB fazendo, eu digo, "nós podemos fazer isso''. Eu só falo  com nossa comissão: a única coisa que nos limita  é a nossa imaginação ". 

Algumas vezes essas lições vão para outro lado. Por exemplo, no primeiro ano de Lafleur.  Apesar de ser de Michigan ele odiava o frio, e Green Bay é um lugar duro de sentir isso. Ele colocava uma série de roupas durante os jogos no inverno e ele continuava falando do frio enquanto conversava com o time no final da temporada. “Aaron me dava forças”. disse ele. 

É uma mentalidade. Eu sempre senti que era uma crença que você podia tirar vantagem disso, " disse Rodgers, a respeito daquela conversa. “Sendo real ou não. Não importa para o seu cérebro, não importa para o seu corpo se você acreditar, aquilo se torna realidade. A gente treina isso. nós vivemos isso. Eu te prometo, o outro time está sentindo mais frio que nós. É importante pensar em tudo que falamos porque nossas palavras são feitiços. E precisamos ter certeza de que através das palavras a realidade que queremos alcançar.” Hoje em dia LaFleur está tranquilo com o frio. 

Essa é a primeira parte da tradução integral da matéria escrita por Kevin Clark para o The Ringer. A reportagem original você pode encontrar clicando aqui.

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