“Eu acredito em segundas chances” – A incrível história de Kenny Clark

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QUEIJAS E QUEIJOS!

Chegar até a NFL é uma conquista não apenas para o jogador, mas também para toda a família - afinal, é o resultado de pelo menos uma década de dedicação física, mental, técnica e tática por parte do atleta, salvo raras exceções. E é evidente que estar ao lado dos pais e irmãos nesses momentos é emocionante e excitante em níveis iguais. Seja no Draft, nas arquibancadas na Senior Night ainda no college football, na estreia do jogador como rookie, ou mesmo no training camp, como já é tradição na gélida cidade ao norte de Wisconsin que sedia a mais vitoriosa das franquias desse esporte. Porém, para um jogador em específico, uma simples visita ao pai foi a realização de um sonho que outrora pareceu tão irreal quanto uma cena de filme da Sessão da Tarde…


Mas, antes de falarmos de 2023 precisamos voltar quase vinte anos no tempo, mais precisamente para 2004. Naquele ano, na cidade de San Bernardino, lar original da mais famosa franquia de fast food do mundo, duas casas eram destroçadas. Em uma confusa noite de maio e em meio a diversos depoimentos contrastantes, Misael Rosales, um zelador da Muscoy Liquor, conhecida loja de bebidas da região, foi assassinado, vítima de disparos de arma de fogo. As câmeras de segurança flagraram o pai homônimo de Kenny tendo uma discussão com a vítima, resultado de uma batida de carro momentos antes. Os disparos, contudo, não foram filmados. O fator preponderante para a acusação e prisão de Kenny Sr foram as declarações de Monroe Thomas, amigo de Misael, que estava com ele no momento da briga entre os dois indivíduos. Segundo Thomas, Kenny teria inclusive agredido fisicamente Rosales, antes de sacar a pistola e cometer o crime capital. Aliás, não me entendam mal: não estou dizendo que a prisão tenha sido justa ou injusta, pois me faltaria conhecimento técnico para tal. Afinal, Kenny pai já tinha um passado turbulento, que envolvia consumo excessivo de álcool e drogas, além de ter sido preso por vinte meses por tráfico de entorpecentes e roubos. O próprio Clark famoso reconhece que seu pai não era e nunca foi um homem perfeito, mas pondera que ele era um pai perfeito. Sim, existe uma larga diferença…

Duas semanas depois, em 22 de maio de 2004, o inferno que permearia a família Clark atingiu seu clímax: a polícia californiana deu voz de prisão a Kenny Sr, na presença de toda a família - a esposa Nicole, os filhos Kenny Jr, à época com nove anos de idade e Kyon, além das gêmeas Kennia e Kennise, de apenas quatro primaveras. Jurando inocência, Kenny Sr foi à julgamento, de onde não sairia como homem livre. Condenado à 55 anos de prisão, sem possibilidade de liberdade condicional, esta tendia a ser a última vez que o pai via seus quatro filhos fora de uma instituição penal.

Sob esse novo cenário de vida, coube ao filho mais velho assumir o papel de homem da casa. A mãe trabalhava incansavelmente como enfermeira para sustentar a família, enquanto Kenny Jr arrumava seus irmãos para a escola e cuidava da casa. Como diria o Tio Ben, "grandes responsabilidades" estavam agora sobre seus ombros, e o hobby compartilhado com seu genitor já não tinha mais espaço na agenda. Se por um lado foi o pai que o incentivou a amar o futebol americano e a unidade defensiva do esporte, também era culpa do pai que ele não tivesse mais tempo para manter a paixão em sua vida. A dualidade tomou conta e levou Kenny Jr a nutrir um sentimento de raiva que o consumiu por anos. Mas, felizmente, não para sempre!

Kenny Clark Jr e os pais, vestindo uma jersey de Ray Lewis, um dos jogadores favoritos de Clark Sr

Em 2009, com a família mais bem estruturada, Kenny finalmente pôde recolocar o esporte em sua vida. Atuando pela Carter High School, o desempenho do adolescente que jogava como gente grande chamou a atenção de quase todas as universidades da PAC-12. Clark então escolheu UCLA - afinal, qual criança da costa oeste não sonha em jogar no Rose Bowl Stadium? E a escolha se mostraria tão certeira quanto as flechas de um arqueiro habilidoso. Se valendo de uma prerrogativa de bom comportamento, Kenny Sr recebeu autorização para assistir de dentro da penitenciária os jogos de UCLA que fossem transmitidos em rede aberta. Depois de quase dez anos, finalmente o pai orgulhoso via seu amado filho usando helmets, pads e chuteiras, e em altíssimo nível. O primeiro jogo já foi logo um teste de fogo - a gigante Nebraska Cornhuskers, em Lincoln, diante de 90 mil torcedores vestidos de vermelho e branco. E conforme a estrela de Kenny Jr ia brilhando intensamente pelos Bruins, as chances de seu pai ser inocentado diminuíam na mesma rapidez. Quis o universo, irônico e travesso em si mesmo, que o jovem enfrentasse o dia mais importante de sua vida e fosse escolhido por uma equipe do esporte favorito de seu pai sem tê-lo fisicamente ao seu lado. O sentimento, contudo, estava lá.

Entre batalhas jurídicas extensivas e frustradas, Kenny Clark Jr recebeu a ligação que esperou por toda a vida: ele agora seria um jogador profissional na NFL. De lá pra cá, nada além de sucesso na posição e uma condição financeira que lhe permitiu recompensar à mãe tudo que ela fez para manter a família unida. Entretanto, faltava algo... E é aí que entra 2023. No dia 9 de fevereiro deste ano, o governador Gavin Newsom concedeu clemência e permitiu a liberdade condicional de Kenny Sr. E no começo do atual mês, a esposa e quatro filhos foram esperar a soltura do pai no estacionamento. Uma semana depois, Nicole e Clark Sr decidiram renovar seus votos de casamento e reafirmarem o amor que manteve os Clark's unidos em duas décadas de dificuldades. Kenny Jr não conteve as lágrimas, como era de se esperar. Entre treinamentos em Wisconsin e visitas aos pais, as últimas semanas têm sido bastante agitadas para um homem que se acostumou a perseguir quarterbacks, mas não irá se acostumar tão cedo a estar junto daquele que lhe deu a vida e o nome. O camisa #97 têm comprovado por experiência própria a veracidade dos versos de uma das mais conhecidas canções da banda Imagine Dragons: "Eu não vou te abandonar, eu não vou te decepcionar; Permita-se novamente, eu acredito em segundas chances". Caberá ao primogênito dar ao seu gerador uma primeira chance: a primeira chance de vê-lo jogar estando sentado nas arquibancadas do Lambeau Field!

"Quem me conhece sabe o quanto isso significa pra mim. Ver você sair por aqueles portões foi realmente um momento especial para a minha família. Obrigado a todos pelas orações e àqueles que mostraram amor ao longo dos 19 anos em que o meu pai esteve preso. Bem-vindo à casa pai 🖤"
(Kenny Clark Jr, via instagram)

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