Por William Ribs
BJ Raji: O Homem do Jogo
A primeira temporada de futebol americano que comecei a acompanhar foi a temporada de 2009, tive algumas dificuldades para entender o jogo, pois eu fui o primeiro do meu círculo de amizades a me apaixonar por esse esporte. Aos poucos, lendo e acompanhando os jogos na ESPN e Bandsports, fui entendendo e me encantando cada vez mais. A escolha pelo Green Bay Packers foi completamente aleatória e sem saber nada sobre o time, sua história e jogadores.
Eu escolhi os Packers pela cor, isso mesmo pela cor verde. Sempre a cor verde foi a minha favorita, já acompanhava a NBA e sou torcedor dos Celtics. Porém, obviamente, quanto mais pesquisava sobre a rica história dos Packers, mais ficava claro que a escolha havia sido certeira e me apaixonava rapidamente pelo time. Ainda nessa temporada de 2009, aprendi a torcer já com uma grande frustração, após a derrota nos playoffs para os Cardinals, e, apesar de ser a minha primeira temporada, essa derrota doeu como se fosse torcedor há muito tempo.
Apesar de ter sido simplesmente um jogaço, não é sobre esse jogo que irei falar, e sim, sobre um jogo muito especial pra mim e para todo torcedor dos Packers, a final de conferência da temporada 2010: Chicago Bears X Green Bay Packers, no Soldier Field, primeiro jogo de playoffs entre a maior rivalidade da história da NFL desde 1941 (quando os Bears venceram). Na temporada regular, as equipes já tinham se enfrentado duas vezes, cada time venceu a partida que disputou em casa e em ambas por menos de uma posse de bola. Imaginei que esse jogo seria gigante, era a nossa chance de vingança, vencer um jogo de playoffs na casa do nosso maior rival.
Menos de um ano como torcedor e eu já era fanático, sou muito intenso nos sentimentos, grito, vibro, xingo, choro, e etc. Já tinha feito um primo virar torcedor dos Packers, e nós estávamos vendo todos os jogos juntos, inclusive nos playoffs. Vimos contra os Eagles, contra os Falcons, e nesse contra os Bears, ele não conseguiu ir. Então, supersticioso que sou, já fiquei pensando que iríamos perder, porque meu primo não ia ver o jogo comigo. Tenho o meu ritual antes de todos os jogos, sento no mesmo lugar do sofá, volume da TV no número de algum jogador importante para o time, camisa do Packers estendida no sofá, e aí sim, tudo pronto.
Bola pro alto, começa a partida, logo no primeiro lance Aaron Rodgers lança um passe de 26 jardas para Jennings, aquilo era um bom sinal. Na primeira campanha os Packers chegam à linha de uma jarda do Chicago Bears, e aí acontece uma das melhores jogadas do Packers naquela temporada na minha opinião, BJ Raji (guarde esse nome) nosso Defensive Tackle titular alinha como corredor para a surpresa de todos e, atrás dele, o inesquecível fullback John Kuhn. A jogada estava desenhada, um gigante abrindo espaço para Kuhn, afinal era 1 jarda apenas para o TD. A jogada acontece e, após o snap, Rodgers pega a bola, a defesa do Bears vai pra cima de BJ Raji e Kuhn, mas para a surpresa de todos Rodgers corria rumo à endzone para abrir o placar.
O jogo ficou truncado e as defesas começaram a aparecer. Naquela época, os dois times tinham ótimas defesas, que terminaram a temporada regular no Top 5. No começo do segundo quarto, os Packers engrenaram uma campanha e marcaram o segundo touchdown com uma corrida de James Starks, deixando o placar 14 - 0. Ainda no segundo quarto já faltando menos de um minuto o primeiro susto, Rodgers tenta um passe lateral para Donald Driver, o passe foi muito baixo e na tentativa de conseguir a recepção a bola pipoca nas mãos de Driver e Lance Briggs (linebacker de Chicago) intercepta a bola (sabe aquelas jogadas surreais que parecem acontecer apenas em filme, pois é uma dessas). Nesse momento, eu já estava pensando "não podemos deixar esses caras crescerem no jogo". Na jogada seguinte Jay Cutler tenta um passe em profundidade para Johnny Knox, o passe parecia perfeito, mas então aparece voando Sam Shields e faz uma interceptação maravilhosa na linha de 3 jardas para salvar os Packers e não deixar Chicago ir para o vestiário com moral.
No terceiro quarto veio o segundo susto: após um avanço gigante por conta de uma interferência de passe em James Jones, os Packers chegaram na linha de 6 jardas. Como era de se esperar, Chicago mandou muita pressão pra cima de Rodgers, que tentou um passe, mas foi interceptado pelo hoje hall da fama Brian Urlacher. Na jogada o quarterback mesmo acabou fazendo o tackle, salvando o time de um retorno para touchdown. O terceiro quarto não começou bem, começava a suar frio e a balançar as pernas incontrolavelmente (acontece quando fico apreensivo demais). Jay Cutler havia sentido uma lesão e não voltou para o campo, abrindo espaço para a entrada do quarterback reserva Todd Collins entrando em campo. Ao invés de comemorar, pensei "isso tá parecendo um roteiro de filme", daqueles filmes que tudo começa dando errado, mas no fim, dá tudo certo. Neste caso, contudo, significava uma virada improvável e a nossa derrota (sim, eu sou daqueles torcedores que sempre pensa o pior, talvez seja uma autodefesa para me frustrar menos). Voltando ao jogo, os 3 primeiros passes de Collins são incompletos, punts para ambos os lados e o terceiro quarto terminou sem muitas mudanças, para a minha felicidade.
No último quarto, após não surtir efeito com Collins, os Bears resolvem ir com o terceiro quarterback Caleb Hanie. Então, os Bears engrenam uma campanha com passes e corridas (frisando, mais uma vez, com o terceiro quarterback) e conseguem o primeiro touchdown na partida, em uma corrida de 1 jarda de Chester Taylor. O jogo estava a uma posse de bola da diferença e a apreensão aumentando (vocês, fãs, sabem muito bem como o coração fica no último quarto de um jogo de playoffs disputado). Posse de bola dos Packers, primeira jogada da campanha, pressão Rodgers tenta um passe longo para Jennings, mas o passe foi incompleto, a câmera volta para Rodgers caído no chão (aqui eu simplesmente gelei). Flags amarelas no campo, Julius Peppers acertou uma senhora pancada em Rodgers e, além disso, foi sinalizada uma falta de capacete com capacete.
Quase 8 minutos restando no relógio, Packers praticamente no meio do campo, 3 para 1 na linha de 35 jardas, placar 14 - 7, tínhamos que conseguir essa jarda, principalmente pra queimar cronômetro. No alinhamento pré-snap John Kuhn e James Starks alinhados para a corrida, e os Packers tentam enganar a defesa dos Bears com um passe curto, mas sem sucesso. Na sequência, em menos de dois minutos, ambas as defesas forçaram dois three and out, e a bola estava novamente com os Bears.
Bola na linha de 15 jardas, 3 para 5, 6 minutos no relógio, Hanie tenta um passe para Matt Forte que acaba interceptado por BJ Raji, que além da interceptação, corre para o touchdown. Até aquele momento, nunca tinha visto um DT fazer um touchdown, Bj Raji tinha 1,88 cm e pesava 153 kg, isso era surreal (nesse momento eu gritava tanto que minha mãe entrou na sala e perguntou "o que tá acontecendo?").
Apesar de não ter sido o MVP, obviamente, essa foi a jogada da partida, pela sua importância e pela sua peculiaridade. Abrimos 21 - 7, mas ainda restavam 6 minutos no relógio. Chicago veio com tudo, ganhando first downs, até a bola parar na linha de 36 jardas, então Haine faz um passe lateral para Earl Bennett, que estava sendo marcado por Charles Woodson. Quando Bennett faz a recepção Nick Collins estava chegando na jogada, mas nem ele e nem Woodson fazem o tackle (quando você revê o lance, esse tackle estava mais para o Collins do que para o Woodson, mas ambos confiaram um no outro e nenhum fez o tackle, sem demagogia, foi a pior falha que eu vi desses dois ótimos jogadores) e então Bennett corre sozinho para a endzone: 21 - 14 e o jogo novamente por uma posse de bola, restando 4 minutos no relógio.
A bola era nossa, ataque no campo, precisávamos queimar cronômetro, restando poucos minutos, o que acontece? Defesa dos Bears força outro three and out, e o ataque dos Packers ficou exatamente 1 minuto e 36 segundos no campo. A essa altura, eu já estava tão em choque que não falava nada, completo silêncio, nem parecia que a vantagem ainda era nossa. Eles tinham que fazer mais um TD pra empatar o jogo, e a nossa defesa estava jogando bem, mas a adrenalina era tanta que eu nem lembrava dessas coisas, só queria que o jogo acabasse.
Bola com os Bears, avançando, avançando, chega o aviso de dois minutos (emoção a flor da pele, para mim, para todos os torcedores e para os jogadores, essa pausa eu sinceramente não sei se ajuda ou atrapalha). Times retornam em campo, jogada decisiva, 4 para ½ jarda, na linha de 50, e os Bears conseguem o first down com Taylor. Bears continuam avançando aos poucos, quando o relógio marca 1:15 para o fim do jogo na linha de 27 jardas, 3 para 3, a defesa do Packers forçam um tackle for loss com Bishop, agora os Bears tinham apenas mais uma jogada para conquistar o first down ou os Packers iriam para o Super Bowl, pois eles só tinham mais um tempo para pedir. Bola na linha de 29 jardas, praticamente o último lance da partida, Hanie tenta um passe no meio da redzone, INTERCEPTADO, por quem? Mais uma vez ele, Sam Shields o salvador da pátria, que junto com BJ Raji, na minha opinião foram os melhores jogadores daquela partida. Depois disso foi só ajoelhar na bola e garantir a vitória para ir rumo ao Texas para o Super Bowl, enfrentar o poderoso Steelers de Big Ben, Mendenhall, Polamalu, Ward, Harrison e etc.
No Super Bowl, todos já sabem o que aconteceu, felizmente para nós, nessa temporada fomos campeões pela última vez. Um time equilibrado, com um ataque muito eficiente, Rodgers jogando em alto nível e a defesa que cresceu no momento certo e acabou como uma das melhores da liga. Espero que possamos recuperar esse equilíbrio e que sejamos campeões novamente ainda com o Rodgers de quarterback titular, para que alguém faça desse jogo o jogo da sua vida, assim como esse que descrevi, foi o da minha.
Confira os highlights desta partida:
Obrigado para você que leu, e se quiser deixe nos comentários, qual foi o jogo da sua vida?
Até mais e GO, PACK GO!
(Foto: Reprodução Twitter Oficial/ Green Bay Packers)
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