ANÁLISE TÁTICA: COMO AS DEFESAS “MANUFATURAM” PRESSÃO AO QB

Por Henrique Mol

Em uma NFL que tende a passar cada vez mais a bola, adaptações defensivas são necessárias, e, com isso, pressionar o QB é mais importante do que sempre foi. Essa não será a discussão desse texto, mas o que mostrarei aqui é o motivo pelo qual eu valorizo a secundária como o ponto mais importante em se ter talento em uma defesa.

Ter talento no pass rush é sim importante, não há dúvidas, mas com a capacidade de algumas mentes defensivas de "esquematizar" pressão, algo que ainda não foi realizado com as unidades de cobertura, o valor de ter um poder de marcação baseado em talento é ligeiramente maior. Pensando nisso, ponto focal da discussão será o treinador que é considerado por muitos o maior da história, e também é a melhor mente defensiva da atualidade: Bill Belichick.

Então, toda introdução feita, vamos ao desenvolvimento:

Esquematicamente, qual a diferença da defesa "belichickiana" para as outras ?

O sistema da árvore Belichick, hoje reproduzido por New England, Detroit e Miami, utiliza jogadores versáteis em seu front, ou seja, Outside LBs que sejam capazes de pressionar o QB, ou cobrir passes; e DEs que possam alinhar em diferentes partes da linha, tanto do lado de fora do OT adversário, quanto por dentro, sempre com muita disciplina. Essa especificidade garante à essas defesas uma versatilidade maior, e consequentemente, menor previsibilidade para o ataque, que terá que se preparar pra diferentes ocasiões que a defesa pode mostrar, como por exemplo, diversos jogadores podendo ir para uma possível blitz.

O que permite que as chamadas sejam feitas de forma agressiva, como são em New England?

Bill Belichick é conhecido por valorizar bastante jogadores de secundária, em vez dos pass rushers, tendo histórico de pagar CBs de alto nível, que conseguem jogar em marcação homem-a-homem (Stephon Gilmore e Darrelle Revis), enquanto deixa seus melhores pass rushers saírem na Free Agency (Chandler Jones e Trey Flowers). A capacidade da secundária de ganhar seus duelos 1 x 1 dá a liberdade para Belichick chamar jogadas com múltiplos defensores do front - ou até da própria secundária as vezes - pressionando o QB em blitzes, e isso também é um efeito do tópico anterior, sobre a versatilidade dos jogadores, que ajudam a confundir o ataque.

Vamos agora sair da parte teórica, e vamos para a prática, com algumas jogadas que selecionei.

JOGADA #1:

Nessa jogada, em uma segunda descida, com o ataque em formação empty (QB sozinho no backfield), indicador fortíssimo de passe, a defesa dos Patriots tem 7 jogadores próximos da linha, e todos são levados como ameaças para blitz pelo ataque dos Jets, que deixa 6 bloqueadores. Note como a defesa tem vantagens numéricas no pass rush caso todos os defensores "blitzem". No snap, é exatamente isso que acontece e a defesa consegue pass rushers chegando no QB intocados, causando caos no backfield, e gerando um interceptação de Sam Darnold, e também evidenciando a capacidade de cobertura dos defensores em homem-a-homem, como disse anteriormente.

De certa forma, podemos considerar um erro por parte do ataque dos Jets, uma vez que houveram pass rushers livres pelo meio da linha, e isso é fundamentalmente errado. Em casos de vantagem numérica, os jogadores atacando o QB mais ao meio devem ser bloqueados, deixando o jogador mais externo livre, não o contrário, como feito por New York.

JOGADA #2

Nesse próximo exemplo, do mesmo jogo, a defesa dos Patriots novamente tem números melhores na relação pass rushers x bloqueadores, e novamente, 7 x 6. A diferença é que aqui, não são todos os sete que vão de fato para blitz, já que três deles apenas ameaçam pós snap, e recuam para cobrir zonas mais curtas, para evitar um possível passe rápido de Darnold. O resultado foi o melhor possível para New England, John Simon faz o sack e força um fumble em Darnold, e que vira um retorno para TD de Van Noy.

Aqui nesse lance, fica claro que só o instante que os três jogadores que recuaram para cobrir simularam um blitz foi o suficiente para ocupar os OLs dos Jets, que nesse caso, não permitem jogadores intocados pelo meio da linha, mas por total mérito da chamada defensiva, cederam um jogador livre pela extremidade, enquanto alguns bloqueadores estavam sem bloquear ninguém. É a genialidade de Belichick em um vídeo.

JOGADA #3:

Aqui, vamos traçar um paralelo com o nosso querido Green Bay Packers, e como o nosso Coordenador Defensivo Mike Pettine utiliza essa simulação de blitz para confundir o ataque adversário. A jogada em questão foi marcante para a temporada de 2019, na semana 1 contra os Bears, onde o Safety Adrian Amos interceptou Mitchell Trubisky, na jogada que praticamente deu ponto final para o jogo. Vejam como Blake Martinez (#50), Kyler Fackrell (#51), e Raven Greene (#24) estão em uma posição que indicam blitz, e após o snap, recuam para ajudar na cobertura, enquanto Darnell Savage (#26) sai de sua posição no slot para ir para a blitz em cima do QB. Com todos os pass rushers na jogada atacando o lado esquerdo da linha ofensiva, ocorre uma sobrecarga na unidade adversária, e a pressão logo chega à Trubisky, que é interceptado.

Essas amostras citadas e explicadas são apenas uma fração bem pequena do arsenal usado por diversas mentes defensivas pela liga para gerar pressão no QB adversário, e mostram como esquema pode compensar falta de talento (claro, o exemplo dos Packers não é bem assim, os jogadores são talentosos) e pressionar com consistência descidas óbvias de passe principalmente.

Saudações Cheeseheads e até a próxima!

(Foto: Reprodução Twitter oficial/Green Bay Packers)

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