O brilho do astro-rei

"I gotta hold on to this one", ou, em tradução livre, "eu preciso segurar essa aqui".
Essas foram as palavras ditas por Aaron Rodgers a um jogador dos Lions que sugeriu a troca de camisas logo após a derrota no último Sunday Night Football, que decretou não apenas o fim da temporada, mas também a primeira eliminação antes dos playoffs na era Matt LaFleur.

Uma sentença que não pareceria ter nada de especial, não fosse o delicado contexto no qual foi inserida. Em meio a uma noite de dramas, decepções e incertezas, o camisa doze adiciona a cereja ao bolo, de forma tão enigmática quanto se acostumou a fazer nas temporadas recentes.

Porém, apesar do tom misterioso, esse conjunto de palavras contém uma verdade histórica, em até certo ponto dolorosa para o torcedor dos Packers, e que insiste em se provar veraz a cada novo fevereiro que se passa: estamos nos agarrando a algo único. Não a uma jersey única, como Rodgers, mas a um conjunto de singularidades. Uma única glória do jogador que ostenta uma dúzia às costas, alcançada exatamente doze anos atrás - aliás, curiosa a relação causada pela ação do tempo, não acha? E esse momento jamais repetido foi vivido em um jogo onde nenhum outro jogador de posição do elenco atual teve a honra de atuar. No lugar que se orgulha em se autoproclamar "o estado da estrela solitária", Aaron Rodgers brilhou sozinho, com uma cintilância que ainda aguardamos ver novamente. E nós, torcedores, nos seguramos a esse momento que pintou de verde os Estados Unidos. Talvez pelo verde ser a cor da esperança, ou por pura e simples necessidade de satisfazer um desejo não concedido. Em momentos como esses, a nostalgia supera a realidade, e o passado parece suplantar o presente, enquanto a assustadora incerteza do futuro se apresenta diante de nossos olhos. Enquanto o tecido do tempo continua sadicamente insistindo em privar uma nação de se regozijar com aquele que um dia pareceu um super-herói sem capas, o universo segue sendo o zeloso guardião de uma luz que começa a se apagar. Tal qual um corpo celeste escondido nos confins do universo, recebemos aos poucos, de forma dosada, os lampejos de sua resplandescência, como se estivéssemos a anos-luz de distância da presença do astro. A ironia, contudo, é que talvez realmente estejamos, e a temporada 2022 mostrou de forma clara os indícios de uma supernova que se aproxima de forma veloz e pode ter começado no domingo.

O astro-rei da Baía Verde entrou na partida tendo uma missão simples: deixar que seus raios cegassem os adversários e iluminassem o caminho dos companheiros rumo à outra Baía - a de San Francisco. Porém, o que vimos foi uma escuridão criativa que resultou em uma atuação fraca e inconsistente, na qual Rodgers se mostrou incapaz de servir como estrela-guia dos companheiros. E é então que é dita a fatídica frase que abre este artigo. Estaria o homem que ostenta em sua casa os dois últimos prêmios de jogador mais valioso do ano pensando em passar pelo inevitável processo de metaformose que é inerente às estrelas, deixando sua luz apagar de forma temporária e voltando de forma diferente? A resposta não virá nos próximos dias, e como qualquer corpo celeste que se preze, é de se esperar que ele utilize toda atenção que recebe para manter a incógnita. Enquanto isso, nós, quais observadores, continuaremos nos agarrando ao supracitado momento de brilho máximo, esperando ter a sorte de vê-lo se repetir o mais cedo possível. A verdade, meus caros leitores, é que o poder da nostalgia realmente é subestimado, como pontuado por Dwight Schrute, e é ela que potencializa a própria esperança. Afinal, como seria possível acreditar na chance de ver a história acontecer, se ela já não tivesse se mostrado plausível anteriormente? O caminho já foi pavimentado uma vez, e isto é fato documentado. A grande questão é: poderia ele ser novamente trilhado?

Evidentemente, eu gostaria de responder de forma positiva. Entretanto, nesse momento, provavelmente essa questão beire a retórica. Apenas o tempo poderá afirmar com precisão se o caminho da estrela de brilho único será a Via Láctea, de volta ao estado reluzente, ou a Via Crucis, levando à obscuridade. O que sabemos de concreto mesmo é que duas luzes jamais se apagarão: a luz prateada que ornamenta a sala de troféus do Green Bay Packers, embelezada com a conquista de doze anos atrás, e o busto de bronze que lhe aguarda em Canton.

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