QUEIJAS E QUEIJOS!
Ah, as novelas antigas... Todo o clima de nostalgia proporcionado pela principal rede de televisão do Brasil ao reprisar os folhetins que marcaram época em meio as nossas tardes. De O Clone a Chocolate Com Pimenta, passando por Mulheres Apaixonadas e O Rei do Gado, essa programação vespertina leva o espectador em uma viagem pelo tempo, por suas próprias memórias, vivências e experiências. Porém, nem mesmo Walcyr Carrasco ou Glória Perez poderiam imaginar contextos tão complexos quanto uma novela que insiste em se arrastar ano após ano em Green Bay. E haja dramaticidade nos desdobramentos dessa trama, meus amigos!
Mas essa novela, senhoras e senhores, é muito mais antiga do que parece. Ela começa em 2007, quando apenas dois meses depois de estrear A Favorita no horário nobre, Brett Favre finalizava sua relação de forma oficial com a franquia que lhe colocou no topo do mundo do futebol americano em 1996. Ironicamente, a troca que o levou à New Jersey fez com que o homem que outrora era o esportista favorito de Wisconsin tivesse na boca o agridoce sabor da rejeição. O sinal verde estava dado para Aaron Rodgers assumir a titularidade e ter a chance de ser o protagonista dessa nova história. Por mais de uma década, o que se viu foi um relacionamento amoroso eterno e cheio de química, daqueles ao melhor estilo latino de ver televisão. O namoro se transformou em casamento no início de 2011, quando Rodgers conquista o último título da franquia, abençoado por Tony Ramos em Passione - aliás, sugestivo nome de novela para a ocasião, não acha?
Os anos se passaram, e tal qual a obra de Silvio de Abreu, a relação time-atleta era Belíssima. Contudo, rumores de uma possível aposentadoria começaram em 2019 e se intensificaram em 2020. No mesmo ano em que Haja Coração entrava pelas ondas televisivas das residências brasileiras, o front office de Green Bay decidiu testar a saúde cardíaca de sua estrela e de toda a torcida, draftando Jordan Love, suposto herdeiro da posição quando Rodgers decidisse pendurar as chuteiras. E é nesse momento em que todos os envolvidos, inertes tal qual o encerramento de cada capítulo de Avenida Brasil, se perguntavam que cenas o futuro nos reservava.
A resposta veio na sequência, e o dono da posição mostrou os motivos que o tornaram uma lenda dos gramados. Tal qual Ronaldo Fenômeno em sua histórica aparição em Malhação, Aaron Rodgers colocou os fãs em estado de histeria, levando os Packers a treze vitórias e garantindo a melhor campanha da NFC na temporada regular e despachando os Rams na rodada divisional. Só havia mais um obstáculo no sonho de voltar ao Super Bowl. O problema é que esse adversário estava intimamente ligado à programação da telinha na época. Enquanto o Brasil se divertia com Éramos Seis, Tom Brady já tinha seis anéis de campeão, e estava sedento pelo sétimo. Pior para o time verde e ouro que sentiu o gosto amargo da derrota e da eliminação. E toda a polêmica da offseason a acompanharia...
Contudo, meus amigos, um ponto precisa ser considerado. Aaron Rodgers nasceu em dezembro de 1983, quando em terras tupiniquins, o entretenimento nacional era Voltei Pra Você, escrita por Benedito Ruy Barbosa. O título, em tom profético, anunciava o que o ilustre bebê faria quase 30 anos depois. O quarterback de fato decidiu 'voltar para nós', e mais uma vez repetiu a dose. Treze vitórias, melhor campanha da Conferência Nacional e mais uma conquista de Jogador Mais Valioso do ano. Nos playoffs, de novo no Lambeau Field, um velho conhecido: O San Francisco 49ers, seu time de infância, que em 2005 o havia renegado no momento que o jogador mais esperava ser conhecido como uma Alma Gêmea. A chance de dar o troco se apresentava e toda a torcida sonhava com Um Lugar Ao Sol, celebrando o título que escapara pelos dedos no ano anterior. Mas, o que se viu foi exatamente o oposto. Um time apático que em nada lembrou o da temporada regular, visivelmente despreparado para a partida e errando muito mais que o normal. O resultado foi mais uma dolorosa desclassificação e a decepção era evidente nos rostos de todos que estavam no Lambeau Field naquela congelante noite de janeiro.
E tome-lhe novela! Mais uma intertemporada chegou, e com ela, novos episódios dessa saga interminável. Em meio ao noivado desmanchado com a atriz Shailene Woodley, Rodgers mais uma vez emulou um ator e chamou pra si os holofotes. Enquanto o país acompanhava Camila Queiroz divulgando Verdades Secretas, o nosso astro se recusava a revelar o que lhe aguardava nos meses que se seguiriam. Pra piorar, seu coadjuvante preferido, Davante Adams, foi mandado para Las Vegas, terra dos Sete Pecados, depois da diretoria receber o que considerou ser um Negócio da China: duas escolhas altas de draft. Sem seu grande parceiro de cenas, Rodgers foi forçado a brilhar de forma solitária. Entretanto, o plot twist foi inevitável, e a equipe acostumada a estar no topo da NFC não conseguiu sequer ir para o wild card. A melancolia tomava o espaço antes ocupado pela esperança e pela empolgação, e a Travessia entre tais distintos pontos não foi nada tênue. E é claro que rendeu ainda mais carga dramática...
O calendário gira e chegamos a 2023. Mais uma vez, a pauta do folhetim de Green Bay é a permanência ou não do jogador que ousou transformar o Don Hutson Center em um Projac improvisado. Notícias conflitantes são propagadas diariamente, confundindo ainda mais o espectador. Duas correntes de pensamento são fortemente defendidas por seus apoiadores, como qualquer obra de ficção. O que vai acontecer de fato, ninguém sabe - talvez nem o próprio protagonista. Enquanto o roteirista Brian Gutekunst analisa possíveis desfechos e escreve novos capítulos, nos resta, quais aficionados, assistir e teorizar. Porém, uma coisa é certa: caso Aaron Rodgers fique nos Packers em 2023, ele terá que provar que ainda está produzindo hemácias e alçar voos maiores do que vimos na última temporada dessa cansativa trilogia de "vai-não-vai"!
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