Por milênios, a raça humana têm se provado uma espécie de animal com uma característica muito específica: a necessidade de ser aceito e benquisto pelo grupo no qual está imerso. Seja por meio de interesses em comum, por ligações emocionais, culturais ou parentesco sanguíneo, viver em meio àqueles que estão alinhados ao seu próprio jeito de ser se tornou uma obsessão para muitos. Curiosamente, porém, o primeiro conceito de sociedade em qual estamos inseridos e que via de regra tende a mostrar aceitação incondicional, não raro se torna aquele que mais buscamos agradar. Duas palavras simples, curtas, de três letras, mas poder indescritível: "pai" e "mãe".
Nossa história atinge seu clímax na tarde ensolarada de dez de setembro de dois mil e vinte e três, mas começa muito antes. Jordan Love cresceu num lar repleto de amor, fazendo jus ao sobrenome da família. O pai Orbin e a mãe Anna fizeram de tudo para que Jordan, Emily, Kami e Alexis se sentissem queridos. Aliás, foi o pai que sugeriu ao futuro quarterback que ele começasse a praticar o esporte. Orbin frequentemente dizia ao menino que ele cresceria para jogar na NFL. Infelizmente, ele não viveria para ver sua profecia ser cumprida. Policial, o patriarca da família começou a sofrer de problemas psicológicos. Os remédios não surtiram o efeito esperado, e quando Jordan tinha apenas 14 anos, seu pai se suicidou. A notícia, como de se esperar, devastou um então adolescente do ensino fundamental, que cogitou abandonar o futebol americano. Porém, como o próprio Jordan contou em 2020, lembrar do sonho do pai foi exatamente o que lhe deu as forças para continuar. Jordan teve total apoio do pai, enquanto este esteve mentalmente saudável, e ele tinha consciência disso.
O tempo passou e Love, um recruta classificado como duas estrelas, recebeu apenas uma única oferta de faculdades da FBS, a elite do futebol americano universitário. Antes de se tornar um astro e potencialmente o melhor quarterback da história de Utah State, Jordan era um simples redshirt freshman*, de pé na sideline, oferecendo apoio moral aos companheiros. Poucas pessoas sabiam quem era aquele garoto sem uniforme. Contudo, ele tinha uma fã fiel: sua mãe, Anna. O próprio Jordan contou que a questionava sobre os motivos dela fazer tal viagem para o Maverik Stadium, de cerca de onze horas de duração, mesmo sabendo que havia zero chances de vê-lo atuar. A resposta era simples, clara e incisiva: "Eu estarei lá; eu quero ver você". Conforme os anos se passaram, o menino de Bakersfield começou a ganhar destaque em Logan e se tornou ídolo da torcida dos Aggies. Agora todos o conheciam, e ele tinha uma fanbase perenemente crescente. Contudo, sua principal apoiadora ainda estava lá, e era a ela que ele recorria. A cada entrada em campo, o filho amado procurava sua progenitora nas arquibancadas, buscando o suporte emocional necessário para mais uma partida bruta - e sempre encontrava.
Chega então o mês de abril de 2020, e Jordan cumpre a profecia feita pelo pai tantos anos antes, se tornando um jogador da NFL. E é claro que na noite de sua estreia como titular, a matriarca estaria lá. O resultado não foi o esperado, com os Chiefs liderando a partida de ponta a ponta. Todavia, aos olhos de dona Anna, a vitória já havia sido conquistada no primeiro snap. Estar na arquibancada do Arrowhead Stadium e poder assistir seu menino competir contra os gladiadores das defesas adversárias já era motivo suficiente para comemorar. Mas faltava uma vitória. Bom, faltava...
E é nesse momento que chegamos a esse dez de setembro do atual ano. Em seu primeiro jogo como líder oficial da equipe, Jordan surpreendeu positivamente. Uma partida praticamente perfeita que levou a uma vitória consistente e expressiva contra o maior rival de sua franquia. Três passes para touchdown, nenhum turnover, quase 250 jardas aéreas e o melhor passer rating da rodada. Porém, mais que analisar sua atuação, quero me ater ao ponto principal deste artigo: como o amor da família Love lhes trouxe até aqui. Novamente, Anna estava dentro do Soldier Field, torcendo por sua estrela particular, conforme flagrado diversas vezes pelas câmeras da Fox. E não resta a menor dúvida de que ela assim o fará nos demais jogos. Afinal, essa família tem um sobrenome a zelar, e essa missão é levada muito a sério. O sentimento que esse jovem carrega às costas e no documento de identificação pode até não o fazer milagrosamente a jogar melhor, mas certamente o ajudará a continuar focado em campo. E se há uma coisa que a história humana provou sem sombra e margem de debate, é que o não há uma força maior na natureza do que o amor!
*Redshisrt freshman é a expressão utilizada no college football para designar atletas calouros que não serão ativados para jogos durante um ano completo, apenas treinando com a equipe e cursando a faculdade de forma regular. Esses jogadores não podem entrar em campo e conservam um ano de sua elegibilidade esportiva devido a esse fato.
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