QUEIJAS E QUEIJOS!
Primeiro de janeiro. Talvez a data mais comemorada do ano em todo o mundo, exatamente por se tratar do dia que insiste em nos lembrar, de forma perene e contínua, que todo ciclo se esvai, por melhor ou pior que possa ser. Por algumas horas, todos os quatro cantos da Terra se unem em prol de um único objetivo: alimentar suas maiores esperanças e lançar suas decepções ao ar junto com os tradicionais fogos de artifício. E quis o universo que a chegada de 2023 fosse exatamente em meio a uma rodada de NFL na qual metade dos times da liga precisavam tirar forças puramente do coração para seguir sonhando. Para a sorte de nós cabeças de queijo, o Green Bay Packers era um deles, e assim o fez.
Como todos sabem, os Packers vivem uma montanha-russa que começou em setembro e se mantém até o presente momento. Na primeira semana, uma derrota contundente para os Vikings já criou desconfianças em cima do rendimento dos comandados de Matt LaFleur. Porém, as três vitórias seguintes e a boa vantagem aberta em Londres contra os Giants davam a clara impressão de que o esquadrão verde e amarelo estava tão forte quanto nos acostumamos a ver nas últimas décadas. O carrinho chegava ao ponto alto da montanha-russa e os rostos dos passageiros demonstravam nada mais que excitação pelo que viria. E como é de conhecimento geral, é exatamente aí que começa o momento mais amedrontador do passeio. Uma virada inexplicável sofrida para os Giants na capital da então Terra da Rainha tirou a franquia de sintonia. A terra do rock n’ roll fez uma enorme pedra rolar, tal qual Indiana Jones em Caçadores da Arca Perdida. O problema, meus caros leitores, é que essa pedra atingiu os jogadores e staff, e o impacto foi visível nas semanas à frente.
O que se sucedeu dispensa comentários, e nem é o foco desse artigo. O fato incontestável, contudo, é que se se seguiriam seis derrotas nos sete jogos subsequentes, incluindo para os constantes fregueses Detroit Lions no Ford Field. Com 4-8, parecia que só um milagre de proporções mosaicas poderia salvar a temporada da franquia de Wisconsin. E ele aconteceu, passando diretamente por dois atletas cujo primeiro nome remetem ao irmão de um dos mais famosos personagens da Bíblia Sagrada: Arão, ou Aaron, em inglês.
Que Aaron Rodgers é um grande personagem, conhecido por não medir suas palavras, todos sabem. Mas, pra nossa sorte, essas frases muitas vezes dão resultado. Afinal, quem não se lembra do histórico “R-E-L-A-X”, ou do famigerado “Let’s run the table”? Pois muito bem. Eis que após uma vitória sobre o Dallas Cowboys ele foi aos microfones e avisou, em tradução livre: “A coisa mais importante a ser lembrada é que não estamos mortos”. A frase, feita de chacota e piada pela mídia americana, se provou profética e embalou vitórias imprescindíveis contra Bears, Rams e Dolphins nas rodadas posteriores. E com essa sequência positiva, chegou o dia de ano novo...
Lambeau Field completamente lotado no primeiro dia do ano recém-chegado - como já é de tradição dessa franquia há mais de seis décadas, aliás. Toda uma nação, composta por pelo menos cinco milhões de pessoas, aguardava ansiosamente uma ressurreição miraculosa que precisava acontecer diante do mesmo adversário que havia destroçado os corações dessa mesma multidão na primeira semana. Porém, só é possível observar um milagre quando se tem fé. E fé não falta a Keisean Nixon, seja nas próprias pernas, nos companheiros bloqueadores ou na sua habilidade de fintar os adversários. A cada passada que ele dava com a bola presa e aconchegada em seus braços, o campo se abria, a torcida ficava mais próxima e os Vikings ficavam mais desnorteados. E assim começou o frenesi que embalaria a tarde de domingo e recolocaria a equipe nos trilhos que Londres retirou. Cento e cinco jardas de retorno, o primeiro touchdown dessa forma desde 2011 para a equipe cheesehead. Depois do primeiro soco, veio o golpe que colocou os rivais na lona. Darnell Savage, de forma selvagem como seu nome sugere, interceptou Kirk Cousins e também foi pra casa. Mason Crosby ainda chutaria dois field goals e Aaron Rodgers encontraria Robert Tonyan na endzone para mandar a partida para o intervalo com sonoros e inapeláveis 27x3. O golpe de misericórdia estava dado, e a franquia de Minnesota jazia inerte no gélido gramado da cidade dos títulos. O milagre mosaico estava operado, e tal qual os israelitas contra os egípcios na travessia do Mar Vermelho, os poderosos temeram o poder dos desafiantes.
No próximo domingo, um novo desafio, uma nova guerra será travada. Por sinal, se estamos falando de Moisés e Arão enfrentando o Egito, o que pode ser mais representativo que disputar a última vaga nos playoffs contra Amon-Ra? O cenário está montado, e caberá aos guerreiros da Baía Verde mostrarem mais uma vez que os relatos da morte dos Packers foram altamente exagerados! E já que a montanha-russa tem sido o retrato de 2022 em Wisconsin, nada melhor que concluir a temporada em mais um parque de diversões: o da Disney, celebrando a conquista do Super Bowl!
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