Aaron Rodgers e a personificação do plot twist

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Quem acompanha o meu trabalho há algum tempo sabe da minha admiração pela história em si, seja ela pertinente ao esporte, à política ou qualquer outro assunto. Lembro com carinho e nostalgia das tardes que passava assistindo History Channel, imaginando quando seriam encontrados tesouros de valor inestimável tais como aqueles ajuntados pela Ordem dos Templários nos Séculos XII e XIII, e me perguntando onde estaria a Arca do Pacto e qual havia sido o destino da riqueza do famoso Barba Negra. E como amante da história, da exploração e dos mistérios, é evidente que as sagas de Indiana Jones, Robert Langdon (O Código da Vinci) e Benjamin Gates (A Lenda do Tesouro Perdido) me levavam em uma viagem ao âmago dessas questões e à euforia quando os personagens finalmente desvendavam suas pistas e encontravam os objetos. Porém, apesar dessas supracitadas sagas se passarem em locais diferentes, com roteiros distintos e não se conectarem de forma direta, algo sempre esteve presente em todos eles: os plot twists, as traições, as mudanças de lado dos personagens coadjuvantes e os desdobramentos que um bom filme precisa ter. E, acredite se quiser, caro leitor: o futebol americano em Green Bay pode estar vivendo esse exato momento. Então, prepare sua pipoca e me acompanhe nessa expedição!

Nossa história começa em 2005, evidentemente. Naquele ano, com a vigésima quarta escolha geral, o Green Bay Packers selecionava Aaron Rodgers, uma seleção que foi encarada por parte de Brett Favre, então titular e ídolo eterno da franquia, como a primeira traição. O camisa quatro se vingou em 2009 por se juntar ao Minnesota Vikings, rival histórico dos Packers, e levar a equipe a um passo do Super Bowl. Porém, seria o traíra original que riria por último, e Green Bay justificou sua preferência por Rodgers ao trazer o Lombardi Trophy de volta para sua casa em fevereiro de 2011. Depois desses dois primeiros plot twists, a relação estabelecida entre a equipe e seu general no campo era a melhor possível, e vivíamos aquela parte do filme em que tudo está dando certo para os protagonistas. Porém, sendo você cinéfilo ou não, há de concordar comigo que é de conhecimento geral que os momentos de felicidade em Hollywood são criados para serem quebrados. E foi sob esse cenário que veio a terceira traição - e é claro que o cinema a previu.

Na introdução eu citei Robert Langdon como um dos responsáveis pela minha paixão em torno dos tesouros perdidos. Pois acontece que no seu filme mais recente, Inferno (2016), Tom Hanks deu vida ao personagem enquanto ele tentava entender e impedir que um vírus mortal fosse solto em todo o planeta pelas correntes de água. Durante suas investigações, ele inclusive usa possíveis pistas que datam da época da Idade Média, dos trabalhos de Dante Alighieri e da Peste Negra. E quis o universo, irônico e travesso em si mesmo, que a terceira grande virada em Green Bay ocorresse em meio a um mundo similar àquele da Europa dos anos 1300. Enquanto a Covid-19 amedrontava o planeta, os Packers assustavam sua torcida ao anunciar Jordan Love como novo membro do esquadrão. Rodgers, se sentindo traído, resolveu mudar a dramaturgia de cinema para novela, como você pode conferir no texto relacionado abaixo. Contudo, o fato é que nem a terceira traição foi suficiente para tirar o brilho de Rodgers. Em vez de se lamentar, comendo brigadeiro e chorando ao melhor estilo de seriado brasileiro, ele decidiu causar ciúmes nos responsáveis pelo ocorrido, e empilhou duas conquistas de MVP nos dois anos seguintes, em meio a frases esquisitas e declarações conturbadas. O roteiro começava a se aproximar do final, e tal qual Ben Gates e Abigail Chase em A Lenda do Tesouro Perdido - Livro dos Segredos (2007), a reaproximação se deu por meio da busca pelo ouro - nesse caso, um prateado Lombardi Trophy. E quando tudo parecia se encaminhar para o apossamento do que se buscava, uma nova derrocada acontece, e com ela, mais um plot twist.

Chegamos a 2022. Em uma temporada em que nada deu certo, Rodgers sucumbe e tem seu pior desempenho como comandante da Baía Verde. Vem a offseason e o assunto perene de sua saída volta a estampar as manchetes, agora com mais força que antes. Em meio a retiros de escuridão e entrevistas enigmáticas que lembram as pistas poéticas que precisam ser decifradas por nossos heróis cinematográficos, Rodgers cava cada vez mais o buraco da incerteza que o permeia. Enquanto isso, outras equipes anseiam contar com o homem que já alcançou o tesouro máximo do futebol americano, esperando que ele possa repetir a façanha. E mais uma vez o universo mostra sua ironia, quando a franquia mais próxima de aplicar esse golpe é exatamente a mesma que foi responsável pela traição de 2008: o New York Jets. E como todo plot twist que se preze, o ponto principal da discussão gira em torno de valores. Estariam os Jets dispostos a pagar qualquer coisa que os Packers pedissem? E quanto a Rodgers e seu salário astronômico? Será que essa mudança de lado seria mais exitosa que a de Favre quinze anos atrás? A verdade é que só o tempo poderá responder essas questões. Mas o fato é que, da forma como se apresentam os acontecimentos, hoje parece muito mais plausível o adeus que a permanência, e a orfandade deverá ser um sentimento que o torcedor experimentará pelos próximos meses. Caberá a Jordan Love, o pivô de uma das traições, fazer toda a nação verde e ouro esquecer a que está por vir. E já que o assunto são as belas artes, me despeço com o célebre pensamento de de Oscar Wilde: de fato, "a vida imita a arte" - mesmo quando não gostaríamos que ela o fizesse.

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